PARA PENSAR
“A menos que abramos as portas de nossas casas uns aos outros, a realidade da Igreja que Jesus edificou como sendo uma família de irmãos e irmãs amorosos é apenas uma teoria”

"Desinstitucionalizados sim, desigrejados jamais, desviados nunca. Somos a igreja de Cristo “juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1Co 1.2)" Por seu Reino!

Se alguém comemorou o Dia da Reforma Protestante exaltando a Lutero e sua obra e luta, mas condena os "desigrejados" de nossos dias, esse alguém não entendeu nada!

segunda-feira, 7 de maio de 2012

As Práticas das Igrejas Orgânicas – Iniciando Uma Igreja Orgânica (No Brasil) – Parte 2 – Princípios Neotestamentários de Plantação de Igrejas




Marcio Rocha


Nesta segunda parte, vamos refletir sobre como as igrejas surgiam no primeiro século, e como isto se aplica a nós hoje.

Princípios de Nascimento de Igrejas Constantes no Novo Testamento

As igrejas narradas no nosso Novo Testamento surgiram segundo um padrão metodológico tríplice. Ou foram plantadas por um apóstolo e sua equipe (ou por pessoas treinadas por eles), ou surgiram a partir da divisão de uma igreja existente (por esta ter crescido muito e não caber mais em um lar), ou eram iniciadas em determinado local quando alguns irmãos de uma ou mais igrejas vinham de outra(s) localidade(s) e mudavam residência para lá, e ali estabeleciam uma comunidade-igreja. As três maneiras pelas quais as igrejas do primeiro século nasciam podem ser metaforicamente comparadas ao germinar e ao crescer orgânico de plantas e vegetais: plantação, reprodução por divisão celular, ou transplante.

O autor Frank Viola classifica os modos de nascimento das igrejas narrados no Novo Testamento em quatro modelos: o Modelo de Jerusalém; o Modelo de Antioquia; o Modelo de Éfeso; e o Modelo de Roma[1]. Contudo, pode-se perceber que nesses quatro modelos estão presentes os três métodos orgânicos de nascimento de igrejas aqui citados.

Em Jerusalém, bem como em diversas cidades de Israel, os apóstolos plantaram a igreja durante alguns anos, e ela se reproduziu grandemente nas cidades, por divisão celular. Quando surgiu a perseguição por parte dos Judeus, a maioria dos irmãos saiu das cidades israelenses, principalmente de Jerusalém, e foram morar em cidades de outros países, iniciando nelas novas comunidades de discípulos. Ocorreu, assim, em Jerusalém, plantação, e depois, um transplante não intencional.

Muitos discípulos que saíram de Jerusalém e de outras cidades israelenses se estabeleceram em Antioquia da Síria, que se tornou então a maior igreja da região. Uma vez estabelecida em Antioquia, a igreja desta cidade enviou obreiros para plantar novas igrejas em cidades na Ásia Menor (hoje Turquia), na Grécia, na Macedônia, e em outras cidades na Europa – o mundo gentílico. Pode-se perceber que em Antioquia, a igreja surgiu por transplante, e depois enviou apóstolos para plantarem novas igrejas.

O apóstolo Paulo plantou a igreja em Éfeso e lá alugou uma escola (a escola de Tirano[2]) para ensinar o evangelho e formar novos obreiros apostólicos. Esses obreiros[3], treinados e enviados por Paulo, ou seja, apóstolos delegados pelo apóstolo Paulo, plantaram igrejas em cidades próximas a Éfeso. Desta forma, em Éfeso houve plantação, e as igrejas geradas pela igreja de Éfeso surgiram também por plantação, porém feita de modo delegado.

É muito provável que a igreja de Roma, originalmente, tenha nascido quando alguns judeus que moravam em Roma foram a Jerusalém para a Páscoa e Festa dos Pães Asmos, e lá ouviram a pregação de Pedro (Atos 2.14-40); convertendo-se, voltaram para Roma e lá estabeleceram uma comunidade de discípulos. Entretanto, em 49 d.C. o Imperador Romano Claudius emitiu um édito proibindo a prática do Cristianismo na cidade (Atos 18.12). Isto fez com que os judeus-cristãos da cidade migrassem para outras cidades do império. Tudo indica que o casal Áquila e Priscila fossem originalmente de Roma, e estavam entre os irmãos que migraram para Éfeso por causa desta perseguição. Quando este édito foi revogado, em 54 d.C, acredita-se que muitos cristãos que haviam migrado para outras cidades, retornaram para Roma e reestabeleceram a igreja lá. No capítulo 16 da carta de Paulo aos Romanos, escrita em 57 d.C., ele saúda diversos irmãos de Roma que antes integravam igrejas em outras cidades do império, muitos deles de Éfeso, inclusive Áquila e Priscila (observe que Paulo ainda não tinha estado em Roma e já conhecia pessoalmente esses irmãos). Assim, a igreja original de Roma foi (muito provavelmente) plantada por meio da pregação de Pedro, e, em sua segunda formação (ou no seu reinício), ela foi estabelecida por meio de transplante intencional de irmãos vindos de outras cidades.

Contextualização dos Princípios Neotestamentários de Plantação de Igrejas Para a Presente Geração

A correta interpretação das Escrituras consiste em verificar o significado de sua mensagem para os primeiros ouvintes, dentro do seu contexto histórico-gramatical, extrair daí os seus princípios eternos, e depois aplicar essesprincípios de modo contextualizado para cada época ou geração. Os princípios constantes nas Escrituras são oriundos do próprio Deus, e se forem aplicados em nossa geração, produzirão os resultados que Deus espera, que lhe agradam – a sua vontade.

Assim, devemos buscar aplicar os princípios orgânicos de plantação de igrejas constantes no Novo Testamento, se quisermos sinceramente plantar igrejas segundo o coração de Deus.

Mas, Hoje Existem Apóstolos?

Sim e não. No sentido literal da palavra Grega, um “apóstolo” é alguém que foi enviado. Cada vez que uma igreja envia um obreiro para plantar uma nova igreja ou apoiar uma igreja já estabelecida, este é um apóstolo. Neste sentido, sempre existiram e ainda existem os apóstolos na história da igreja. Por outro lado, se considerarmos esta palavra no sentido de “testemunha ocular” de Jesus Cristo, obviamente não existem mais apóstolos. E ainda, se alguém utiliza esta palavra “apóstolo” como um cargo ou um título autoritário-hierárquico, pode-se dizer que este não é um apóstolo segundo a Bíblia.

Para ser um obreiro enviado, segundo o Novo Testamento, um irmão precisa ter sido vocacionado por Deus para esta missão, precisa ser enviado por uma igreja, ou ter sido treinado e enviado por outro obreiro, como aqueles que Paulo treinou em Éfeso. Antes precisa possuir boa experiência na caminhada com o Senhor, bom conhecimento da Palavra de Deus, e alguns anos de comunhão numa comunidade local. Assim ele estará apto a plantar a semente que é o Evangelho de Jesus Cristo em um novo local, e a ajudar a reproduzir igrejas ali.

No presente mover de Deus em sua igreja rumo à prática das primeiras obras, Deus tem levantado alguns homens para plantar e cooperar com as igrejas nas diversas localidades. Alguns deles, que já vivem igreja de modo neotestamentário, comprometidos com o Reino de Deus, têm literalmente sido enviados a ajudar outros irmãos a reproduzir a vida orgânica da Igreja em outros bairros de suas cidades, ou até em outras cidades, por algum tempo. Alguns desses irmãos têm escrito livros sobre a Igreja e disponibilizado sites e blogs na internet, os quais têm chegado a muitos lugares do mundo. Esse material disponível (grande parte gratuitamente) tem fornecido quase todas as informações para que discípulos de todos os lugares possam ser treinados para iniciar e estabelecer igrejas conforme os princípios eclesiológicos do Novo Testamento. Isto, guardando as devidas proporções, é também estar cumprindo a missão apostólica por meio de treinamento e delegação, conforme Paulo fez em Éfeso, contextualizado para os dias atuais. Além disso, esses irmãos e irmãs que têm escrito e publicado artigos e livros, têm disponibilizado seus e-mails e números de telefones para uma maior interação.

O ideal seria se cada irmão ou pequeno grupo de irmãos que queiram viver igreja organicamente em uma cidade onde ainda não exista este tipo de comunidade pudessem contar com o apoio presencial de um obreiro já experimentado neste tipo de comunhão durante algum tempo, até que os irmãos estejam aptos a se reunir nos lares com a livre participação de cada crente da comunidade de modo igualitário, ordeiro e decente, sem ninguém dominando, e cada um contribuindo para a edificação do corpo, além de aprenderem a se relacionar profundamente em amor, e a compartilhar refeições e outros aspectos de suas vidas. Porém, considerando nossa realidade atual no Brasil, isto é muito difícil. Literalmente, “são poucos os trabalhadores” (precisamos orar para que o Senhor levante mais trabalhadores).

Os obreiros experientes e disponíveis para passar alguns meses em outra cidade distante, cooperando na plantação de igrejas neotestamentárias, aqui no Brasil são pouquíssimos atualmente (pode-se dizer – praticamente inexistentes). No entanto, dentro da mesma cidade, isto é bem mais fácil. Os irmãos que desejam iniciar uma igreja orgânica em seu lar, e sabem que já há irmãos vivendo igreja assim, devem solicitar seu apoio e ajuda no início. Isto é dito para o bem da própria comunidade que está iniciando, para que ela evite se transformar em uma instituição religiosa dentro de um lar, e não uma autentica comunidade onde o Senhor Jesus é o Rei e a única autoridade. Se não for possível receber o apoio de um obreiro enviado no início, esses irmãos devem se integrar em uma comunidade orgânica e ali viver durante alguns anos, para aprenderem a ser igreja segundo os princípios neotestamentários. Só depois devem sair para reproduzir uma nova comunidade. Só se reproduz o que se é. Se alguém que viveu igreja institucionalmente durante anos tentar iniciar uma comunidade orgânica, sem nenhum treinamento ou sem ter experimentado e vivido a vida orgânica da igreja, só irá reproduzir o velho odre em um lar. Mudará apenas de lugar de reunião.

Outro motivo para recomendar que os irmãos que intencionam sair de igrejas institucionalizadas e que desejam passar a viver igreja de modo neotestamentário procurem aqueles que já vivem assim, é para que promovam a unidade da igreja da cidade ou do bairro/localidade. Como bem fala o irmão José Maria Oliveira[4], hoje morando em Brasília, se cada irmão ou irmã que queira viver organicamente com um grupo de irmãos desprezar os demais que já estão vivendo em sua cidade ou bairro, estará fazendo o mesmo que as denominações. Estará criando a sua própria denominação de igreja nos lares, em torno de um líder.

Por outro lado, a falta da presença física de um obreiro enviado de outra cidade para o início de uma igreja neotestamentária não deve impedir o povo de Deus de viver igreja assim. Os muitos irmãos que estão sendo despertados pelo Espírito Santo no Brasil para viverem organicamente não precisam necessariamente esperar até que um apóstolo seja enviado à sua cidade para poderem iniciar uma comunidade de fé. Como já se disse, já há disponíveis livros e websites/blogs com ótimas orientações, não somente eclesiológicas, mas agora também práticas. A comunidade da qual faço parte teve que aprender errando e corrigindo nestes cinco anos de vida. Sofremos um bocado até 2010, por não contarmos com orientações práticas de pessoas experientes neste tipo de vida da igreja. Entretanto, buscamos o treinamento apostólico por meio da leitura, e também buscamos a orientação dos irmãos autores através de e-mail. Assim, estamos conseguindo melhorar semana a semana a nossa comunhão tornando-nos a cada dia mais orgânicos.

Entretanto, desde 2010, estão disponíveis livros e websites que disponibilizam excelente material para orientar na plantação de igrejas em locais onde ainda não há igrejas orgânicas. Não há necessidade de errar tanto quanto nós. Sugerimos os livros: “Mãos a Obra” de Felicity Dale, e “Vivenciando uma Igreja Orgânica”, de Frank Viola – editora Palavra. Sugerimos também o site “Pão e vinho” do irmão Hugo. Em nosso blog, a presente série objetiva exatamente orientar aqueles irmãos de lugares onde não ainda não há igrejas orgânicas/neotestamentárias. Esperamos conseguir contribuir.

Resumindo, as igrejas orgânicas devem ser plantadas por obreiros experientes neste tipo de vida da igreja, ou por pessoas treinadas por eles, seja presencialmente, ou por meio do estudo de seus escritos, vídeos gravados ou vídeo-conferências, além de interação por e-mail ou telefone. Uma vez estabelecidas, as igrejas orgânicas se reproduzirão naturalmente na cidade por divisão celular e, em alguns casos, poderão ser transplantadas para outros bairros ou cidades. No próximo artigo trataremos sobre algumas maneiras práticas de iniciar uma reunião que poderá se tornar uma igreja orgânica.


[1] Frank Viola. Finding Organic Church. Ed. David Cook. Cap. 1. Ps. 25 - 50.
[2] Ver Atos 19.9
[3] São citados no Novo Testamento como tendo sido treinados e enviados por Paulo em Éfeso: Tito, de Antioquia, Timóteo, de Listra, Gaio, de Derbe, Aristarco e Segundo, de Tessalonica, Sopátor, de Berea, Tíquico e Trófimo, de Éfeso,  e Epafras (ou Epafrodito), de Colossos – este último plantou as igrejas em Colossos, em Laodicéia e em Hierápolis (Col. 1:7; 4:12-13).  Ver Atos 19.22, 20.4; 21.29; 1 Cor. 4.17; 16.10, 20 (Paulo escreveu 1 Coríntios estando em Éfeso).
[4] O casal de irmãos José Maria e Rosa podem ser contactados pelo telefone (61) 8321-4984.

Fonte; http://www.igrejaorganica.net/

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