PARA PENSAR
“A menos que abramos as portas de nossas casas uns aos outros, a realidade da Igreja que Jesus edificou como sendo uma família de irmãos e irmãs amorosos é apenas uma teoria”

"Desinstitucionalizados sim, desigrejados jamais, desviados nunca. Somos a igreja de Cristo “juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1Co 1.2)" Por seu Reino!

Se alguém comemorou o Dia da Reforma Protestante exaltando a Lutero e sua obra e luta, mas condena os "desigrejados" de nossos dias, esse alguém não entendeu nada!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

As Práticas das Igrejas Orgânicas - Iniciando Uma Igreja Orgânica (No Brasil) – Parte 1






Continuaremos a escrever sobre isto; porém, faremos um parêntesis neste tema para tratar agora sobre a prática das igrejas orgânicas, baseando-se em nossa experiência, embora ainda consultando o Novo Testamento e irmãos que têm escrito sobre o assunto. Isto foi motivado pela vontade de contribuir com alguns irmãos no Brasil, os quais nos têm procurado para ajuda-los na implantação de novas igrejas em suas cidades ou bairros, porém não possuem a experiência para lidar com questões práticas neste “novo mundo” que é uma igreja orgânica.

O fato é que a maioria dos irmãos que têm nos procurado para ajuda-los a iniciar uma congregação que vive igreja segundo os princípios do Novo Testamento, pelo Brasil afora, tendo renovado seu entendimento acerca da eclesiologia, está saindo de uma igreja institucionalizada; portanto, só conhece as práticas dessas igrejas. Eu e alguns dos irmãos que se reúnem comigo também passamos por isso e sabemos o quanto sofremos (e temos sofrido) por não termos sido orientados no início sobre como contextualizar os princípios eclesiológicos neotestamentários e vivenciá-los em nossa geração. 

Alguns desses irmãos puderam vir a Fortaleza e estar conosco durante poucos dias. Outros nos têm contatado via e-mail, e por meio de comentários no Blog.

É preciso ressaltar que esta nova série de artigos não pretende dogmatizar sobre a ortopraxia das igrejas orgânicas. Embora todas as práticas tratadas na série tenham fundamento na Bíblia (especialmente no Novo Testamento), não se tratam de um “manual oficial”, ou sequer de uma tentativa disto. Que os irmãos as vejam como uma contribuição de um irmão que tem aprendido ao longo de cinco anos de vida em uma igreja organica, portanto já possui alguma experiência. São sugestões práticas que podem ser implementadas, dependendo da contextualização da cultura local e da identidade pessoal que cada congregação (eclesia) desenvolve, na medida em que cresce qualitativa e quantitativamente na fé, na comunhão do amor e na graça de Deus.

Identidade Coletiva – O que somos? O que não somos?

Antes de começarmos a tratar sobre como iniciar uma comunidade orgânica (ou neotestamentária), é preciso definir claramente a visão sobre sua identidade. Antes de iniciar algo, temos que saber o queestamos inciando.

Primeiramente, é preciso compreender que as igrejas orgânicas não são uma nova denominação evangélica ou católica. Não há nenhuma organização por sobre, ou por trás das igrejas simples que têm se reunido nos lares ou em outros lugares. Não há controle humano sobre elas. Não há sequer ciência sobre o número de congregações (células) que estão ativas em cada cidade, ou mesmo em cada bairro. 

Embora esta expressão “igreja orgânica” esteja sendo usada por muitas dessas pequenas congregações não institucionalizadas, ela não significa uma marca registrada, nem a existência de estatutos ou regras escritas extra-Bíblia que regulamentem a doutrina e a prática individual ou em rede, das informais igrejas nos lares.

A palavra “orgânica” vem da Biologia e significa algo que nasce e funciona sem ser manipulado geneticamente pelo homem, ou que não recebeu produtos artificiais para se desenvolver ou para combater pragas. E também significa um organismo vivo. Esta simbologia aponta fortemente para a natureza das igrejas orgânicas: são grupos constituídos por pessoas de variadas idades e personalidades, que receberam a Cristo como Senhor e Salvador pessoal; que creram no seu nome e o expressam na terra coletiva e individualmente. São congregações que não se utilizam de técnicas da administração de empresas para iniciarem, nem para funcionarem, mas baseiam-se nos princípios do Novo Testamento. Elas não são fundadas. Elas nascem. São organismos vivos, e não organizações (no sentido de instituições). São famílias estendidas; famílias espirituais.

Além disso, não há uniformidade completa entre elas, em termos de prática e de doutrina, embora compartilhem algumas características, as quais identificam se uma igreja é ou não orgânica[1].

É importante que se diga que as igrejas orgânicas são comunidades que adotam a Bíblia como maior autoridade em termos de fé e prática cristã, portanto, são de interpretação doutrinária reformada, evangélica[2]. As igrejas orgânicas não estão a inventar (ou reinventar) as doutrinas centrais do Cristianismo Bíblico; ao contrário, confirmam e repassam os ensinamentos sistematizados pelos grandes estudiosos da Teologia Bíblica que contribuíram para o entendimento da Palavra de Deus, as grandes conclusões consolidadas pela igreja em sua história. As igrejas orgânicas diferem das igrejas institucionalizadas evangélicas apenas quanto à doutrina da igreja (eclesiologia) e às práticas eclesiais. Na doutrina (essencial) são ortodoxas; na prática são primitivistas (ou neotestamentárias). 

As igrejas orgânicas tem surgido no Brasil e no mundo por um mover do Espírito Santo de Deus. O vento de Deus tem soprado livremente, e a quantidade de igrejas não institucionalizadas – nos lares – no Brasil, tem aumentado significativamente, principalmente nos últimos dois anos.

Alguns irmãos que tem iniciado e liderado igrejas orgânicas creem que toda a igreja do Senhor (todos os verdadeiros crentes em Cristo) irá um dia retornar às origens neotestamentárias da igreja; que todas as igrejas e denominações cristãs bíblicas que hoje são institucionalizadas um dia deixarão de existir como instituições, e se tornarão orgânicas, simples, nos lares. Alguns até baseiam seu entendimento nas sete cartas às igrejas do livro Apocalipse, interpretando que significam fases da igreja na história, e que a igreja de Filadélfia representa a última fase da igreja antes de Cristo retornar ao mundo, e que esta corresponde às igrejas nos lares.

Pessoalmente, interpreto as sete cartas do Apocalipse como símbolos dos tipos ou modelos de igrejas que existiram e existirão até a volta física do Senhor, porém não necessariamente sucessivamente, ou seja, alguns daqueles tipos, ou todos, existirão concomitantemente durante o período compreendido entre a primeira e a segunda vinda do Senhor. Assim, a igreja de Filadélfia pode estar simbolizando as igrejas orgânicas nos lares, mas não será a única no final escatológico da história da humanidade. Em outras palavras, entendo que conviveremos com vários tipos de igrejas institucionalizadas até o Senhor Jesus retornar. Sabemos que na história da igreja, sempre existiram grupos cristãos aos quais podemos identificar com alguma das igrejas descritas nas cartas do Apocalipse, e também sabemos que sempre existiram grupos que se reuniram nos lares, e às vezes até clandestinamente, em locais longe da vista das autoridades eclesiásticas instituídas.

Na parte dois deste artigo, iniciaremos pelos princípios de nascimento de igrejas encontrados no Novo Testamento, e passaremos a tratar sobre como podemos contextualizar esses princípios e aplica-los na prática.

Graça e paz.



[1] Ver o artigo “O que é uma igreja orgânica”, postado em janeiro de 2010, e “Características das Igrejas Orgânicas”, postado em fevereiro/2010.  
[2] Um dos principais postulados da Reforma Religiosa do Século XVI foi que a Bíblia, e não uma instituição religiosa chamada de igreja, é que é a autoridade máxima, na qual se deve basear a definição de doutrinas e práticas cristãs – A Bíblia é a regra de fé e prática do cristão.

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