PARA PENSAR
“A menos que abramos as portas de nossas casas uns aos outros, a realidade da Igreja que Jesus edificou como sendo uma família de irmãos e irmãs amorosos é apenas uma teoria”

"Desinstitucionalizados sim, desigrejados jamais, desviados nunca. Somos a igreja de Cristo “juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1Co 1.2)" Por seu Reino!

Se alguém comemorou o Dia da Reforma Protestante exaltando a Lutero e sua obra e luta, mas condena os "desigrejados" de nossos dias, esse alguém não entendeu nada!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Quem pode batizar nas águas?

Publicado por Hugo • Categoria: (Theo)Lógika
Recentemente fui indagado por alguns discípulos de uma igreja simples em SP quanto ao que fazer quando novas pessoas no grupo se convertem e precisam ser batizadas. Há uma preocupação natural, principalmente entre os que já passaram pelas instituições religiosas, quanto a quem pode batizar nas águas e se eles mesmos tem autoridade para batizar estes discípulos.
Esta é uma questão interessante, porque o Senhor nos mandou fazer discípulos em todas as nações e batizá-los (Mateus 28:16-20), mas curiosamente “se esqueceu” de criar um estatuto especificando quem poderia exercer a função de batizar os discípulos. E os homens, aproveitando-se deste vácuo, criaram então os seus próprios estatutos para regulamentar a questão. E parece haver um consenso entre as diversas cidadelas eclesiásticas de que somente o clero tem autoridade para batizar.
Batizar, de fato, não é para qualquer um. Porém, nas Escrituras, o privilégio de batizar um discípulo nas águas não tem absolutamente nada a ver com títulos ou patentes eclesiásticas.
Seria surreal pensar que somente doze apóstolos se encarregariam de batizar as quase 3000 almas que em um só dia se converteram em Jerusalém nos eventos registrados em Atos 2. Razoável pensar que os apóstolos contaram com a ajuda daqueles poucos mais de 100 discípulos que os acompanhavam naquele instante.
Isso parece fazer sentido quando observamos que Paulo, após ter seu dramático encontro com o Senhor à caminho de Damasco, foi batizado por um simples discípulo chamado Ananias (Atos 9:10-18). Não há menção de que Ananias fosse um presbítero em Damasco. Da mesma maneira vemos Felipe, que não era presbítero, “somente” um diácono (Atos 6:5) –  função que em algumas denominações não é reconhecida como “ministerial” ou “clerical” – descer à Samaria para prega Reino e batizar. Mais tarde, ele batizou também o eunuco no caminho de Jerusalém à Gaza (Atos 8:12-13, 38).
Portanto, batizar nas águas não depende de “ofício”, mas sim da concessão de paternidade espiritual a quem o Senhor entrega uma alma para pregar, cuidar e ensinar.

Levantado por Deus, desautorizado pelos homens

Houve um tempo em que cooperava com uns irmãos de transfundo institucional que estavam interessados em buscar uma expressão mais orgânica de igreja. Neste tempo, fui enviado pelos líderes locais a uma comunidade de indígenas guatemaltecos para ajudar no batismo de um grupo de novos convertidos. Esta comunidade começou quando um homem simples, também de origem indígena, começou a ser usado no dom de cura, mediante a oração em nome do Senhor. Quando cheguei no lago onde seriam realizados os batismos, surpreendi-me ao saber que não estava lá para ajudar este irmão nos batismos, mas que estava lá para realizar os batismos (!!!). A razão era que este homem, que havia ganhado quase todas aquelas pessoas para Cristo, não se julgava apto para batizar porque não era um “ministro ordenado” (ironicamente, este homem não sabia que muito embora eu era reconhecido como um obreiro na região, tampouco havia sido “ordenado” nos moldes denominacionais).
Tentei convencer este homem a entrar nas águas comigo e batizar seus filhos na fé, mas ele se recusou. Após muito insistir e argumentar, percebi que deveria respeitar sua decisão para não causar um desconforto nele e, principalmente, em alguns de seus superiores mais conservadores na hierarquia eclesiástica. Experimentei o contraste de alegremente batizar aqueles pequeninos, porém com a tristeza de ver este irmão esperando seus filhos na fé com uma toalha à beira do lago. Levantado por Deus e desautorizado pelos homens …
Há 500 anos atrás, os anabatistas davam sua vida pelo privilégio de  batizarem uns aos outros. Hoje, em tempos de liberdade religiosa no Ocidente, nosso maior problema parece ser saber quem tem ou não autoridade para batizar nas águas. Mais forte do que a espada do tirano são os paradigmas da tradição religiosa.

Conclusão

Se, em um contexto de Igreja simples, não estamos coagindo as pessoas a se batizarem e se esse é um desejo que parte delas para firmar seu compromisso com o Reino, biblicamente falando, não temos o direito de negar-lhes o batismo. O Novo Testamento nos mostra que “ser discípulo” é o único requisito indispensável para fazer outro discípulo e, portanto, batizá-lo nas águas. Não há nenhum mandamento ou evento bíblico que nos levem a outra conclusão.
Com isso não quero dar a impressão de que basta fazer o candidato a discípulo rezar a “oração do pecador” (uma invenção da Igreja moderna) e depois jogá-lo na piscina. O batismo deve ser resultante da firme e autêntica convicção de pecados do batizando e, no contexto do “Ide” de Mateus 28:16-20 (onde o Mestre nos ordena a batizar), aquele que batiza deve ter uma firme convicção de seu chamado a não somente batizar os novos discípulos, mas a cuidá-los, corrigí-los e orientá-los, ensinando-os a guardar “todas as coisas que vos tenho ordenado.”
© Pão & Vinho
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