PARA PENSAR
“A menos que abramos as portas de nossas casas uns aos outros, a realidade da Igreja que Jesus edificou como sendo uma família de irmãos e irmãs amorosos é apenas uma teoria”

"Desinstitucionalizados sim, desigrejados jamais, desviados nunca. Somos a igreja de Cristo “juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1Co 1.2)" Por seu Reino!

Se alguém comemorou o Dia da Reforma Protestante exaltando a Lutero e sua obra e luta, mas condena os "desigrejados" de nossos dias, esse alguém não entendeu nada!

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Nossa jornada em busca da igreja verdadeira

Por Ezequiel Netto

Século 16 – período das grandes descobertas. No princípio, era a Igreja Católica. Mas nem ela nem o Papa estavam com Deus, segundo os protestantes que chegaram. Por outro lado, para os católicos, eram os protestantes que se haviam afastado da Santa Igreja. Esses dois grupos de cristãos estão brigando durante 500 anos pelo direito de serem considerados os detentores do cristianismo verdadeiro.

Século 20 – chegada do novo milênio. Aparecem novos polemistas, dentre eles Frank Viola, proclamando que não existem diferenças marcantes entre a fé católica e a evangélica. E mais: o culto evangélico não passa de uma missa levemente modificada, e o cristianismo verdadeiro não pertence a nenhum dos segmentos – o que eles praticam é um cristianismo pagão! O que a igreja atual segue não é o modelo bíblico, mas a religião fundada pelo imperador Constantino.

Muitas pessoas, desanimadas com as atividades religiosas, encontraram força nesses novos escritores e se afastaram da igreja. Mesmo sem perder o interesse por Deus, estavam sem rumo. Deus não estava sendo encontrado em sua própria casa. Em Belém (que quer dizer “a casa do pão”), não havia mais pão. Mas a notícia é que não existe Pão em lugar algum. A multidão dos “sem-igreja” cresce dia a dia. E os que ficaram não são melhores do que os que saíram – estão cansados e abatidos, como ovelhas que não têm pastor (Mt 9.36-37).

Essa era a condição da multidão que frequentava as sinagogas nos dias de Jesus. Atrás da solução de Deus, seus discípulos foram enviados às aldeias, e não aos ambientes religiosos. Procuravam casas dignas onde seriam estabelecidas as verdadeiras igrejas. Seria somente no ambiente familiar que estas pessoas, que buscavam a Deus na religião mas continuavam famintas e sem direção, encontrariam o pastoreio de que necessitavam e teriam a força e a esperança restabelecidas. Jesus não queria restaurar as sinagogas judaicas. Fazendo um paralelo com a igreja atual, a religião cristã fundada por Constantino nos anos 300 não poderia ser restaurada. Simplesmente pelo único motivo de não ter começado de acordo com o plano original de Deus.

Nesta hora, cabe uma explicação sobre o que vem a ser reforma e restauração, já que usamos muito esses termos em relação à igreja. A reforma de uma casa traz-lhe melhorias, modernização em relação à construção original. Já na restauração, o objetivo é devolver o imóvel ao seu aspecto original. Na reforma, a casa vai ficando cada vez mais diferente da primeira construção. Na restauração, o processo é inverso – toma-se uma casa totalmente modificada e vai-se reparando-a até ficar do jeito como foi no passado. Na igreja, o processo é semelhante – as sucessivas reformas foram modernizando a Casa de Deus a ponto de não ter mais nada que lembre o projeto original, como surgiu à época dos apóstolos. Deus quer restaurar sua casa e tirar dela todas as modificações que não fazem parte do que ele projetou.

Nesta linha, surge a visão de Igreja nos Lares, que cresce a passos largos em todo o mundo. Fomos muito impactados com o livro “Casas que transformam o mundo” e, em 2007, recebemos a visita de seu autor, Wolfgang Simson. Como um profeta e mestre das igrejas nos lares, foi enfático em nosso meio: temos que sair da igreja catedral e partir para as casas. E sem nenhuma transição. Se você está em um ônibus e descobre que ele está indo na direção errada, não deve continuar – desça imediatamente! Muitos atenderam a esse apelo, deixaram as igrejas catedrais e entraram no movimento de igreja nos lares.

Mas a igreja nos lares não foi a resposta que precisávamos. Em muitos lugares, a igreja pequena que surgia reproduzia em menor grau o culto que acontecia nas “catedrais”. Saímos da religião, mas ela não saiu de nós. Estávamos nos reunindo por algum bom motivo relacionado com Cristo, mas não em torno do próprio Cristo. E as pessoas continuavam cansadas e abatidas…

Wayne Jacobsen vem tratando este assunto com mais clareza. Ele não condena a igreja institucional, não a chama de Babilônia e nem acha que precisamos sair dela. Diz apenas que não podemos confundir o que a Bíblia chama de igreja com as instituições religiosas atuais que se autodenominam igreja. E vai além: não vê qualquer diferença entre as denominações e igrejas nos lares. Elas podem até ter como membros pessoas que fazem parte da igreja, mas elas mesmas não são igrejas. São instituições religiosas e, segundo ele, algumas até estão funcionando bem, de acordo com o que se propuseram a fazer.

Então, o que faremos? É melhor sairmos da igreja? A confusão continua para quem pensa assim. Você só vai sair da igreja se abandonar a Cristo. Sair de uma instituição religiosa não quer dizer que está saindo da igreja. Mas, afinal, quem é igreja? A igreja é formada por todas as pessoas que mantêm um relacionamento de comunhão crescente com Deus Pai e têm a Jesus como Senhor e líder de suas vidas. Muitas dessas pessoas estão nas instituições religiosas, outras não fazem parte de nenhuma – frequentar atividades religiosas não faz a mínima diferença quando se está procurando quem é ou quem não é igreja. Esse relacionamento íntimo com o Pai deve ser algo pessoal. Você não faz parte da igreja pelo fato de seguir alguém que tenha essa comunhão com Deus. Você tem que fazê-lo por si mesmo.

Alguns irmãos, no entanto, entendendo que as instituições religiosas não estão lhes proporcionando nada de bom, resolvem caminhar sozinhos. Mas esses também não são igreja. Como o Pai, o Filho e o Espírito Santo vivem em comunhão eterna, essa característica passa a fazer parte de todos os que andam na presença de Deus – têm sede de comunhão com outros irmãos. Vemos a Deus através de uma janela embaçada. Mas cada um consegue enxergar um pouquinho, de forma diferente dos outros. É na comunhão que teremos a revelação completa. Por isso Paulo diz que a igreja, o Corpo de Cristo, é a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.23).

O problema das instituições e igrejas nos lares está justamente neste ponto. As pessoas vão se agrupando porque pensam da mesma forma, creem nas mesmas doutrinas e gostam do mesmo estilo de reuniões. Não é que elas não conseguem ver a Deus, mas todos o veem pela mesma fresta na janela, alcançando uma pequena fração. Mas se existem várias pessoas falando a mesma coisa, orando pelos mesmos motivos, cometem o erro de acharem que já sabem tudo, tornando-se arrogantes. Todos os demais, que pensam e fazem algo diferente, estão errados.

Atualmente, devemos ter muito cuidado ao lidar com estas questões, para não cometermos os mesmos erros que os irmãos do passado. Se você faz parte de uma instituição religiosa, não se apresse em sair dela. Procure dentre seus membros aqueles que têm fome e sede de se relacionar com Deus, e não apenas seguem alguém que faça isso por eles. Se a instituição em nada o atrapalha nessa jornada, e até o ajuda, facilitando o encontro desses irmãos, que são a verdadeira igreja, por que sair dela? Mas se você está entediado por inúmeras atividades religiosas meramente simbólicas, que não contribuem com nada para aproximá-lo de Deus e dos irmãos, peça a Deus uma direção do que fazer. Enquanto isso, amplie seus horizontes. Olhe para além dos muros religiosos. Procure manter contato com outros irmãos em sua cidade e região. Não reclame que eles são fechados, que não demonstram interesse por comunhão. Convide você a eles, para um café, um almoço, um sorvete. Quem sabe, um cinema, uma festinha de aniversário. E lembre-se: o que importa de fato não são nossas intenções e ideias, mas nossas ações – faça alguma coisa. Pequenas sementes, pequenas ações, no reino de Deus, geram grandes resultados.

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